Antes de militar contra os tablets, descubra como driblar as dificuldades da leitura digital ou até equilibrar as duas coisas
Pergunte a um grupo de estudantes se eles preferem ler textos em papel ou telas de celulares e a resposta provavelmente vai condizer com uma geração nascida e criada no meio tecnológico. O mundo se transformou e quase ninguém mais sabe o que é entregar um trabalho escrito à mão em papel almaço ou estudar para as provas com livros da biblioteca. Afinal, para que tudo isso se a tecnologia oferece centenas de páginas armazenadas em um leitor eletrônico ou resumos que podem ser lidos no tablet, sem sair de casa. Certo? Bem, talvez nem tanto.
Não há dúvidas de que a internet e as tecnologias podem estimular novas formas de estudar, inclusive por formatos audiovisuais e oferecendo outras utilidades às redes sociais, mas na hora de ler o tradicional texto didático/acadêmico o papel ainda não perdeu seu posto. Pelo menos é o que diz uma pesquisa desenvolvida em 2017 por pesquisadores da área de educação e psicologia da Universidade de Maryland, nos EUA.
Eles entrevistaram grupos de estudantes universitários para investigar suas preferências (se preferiam ler textos digitais ou impressos), sua percepção sobre a compreensão do texto (em qual formato acreditavam aprender mais) e depois mediram com base em algumas perguntas qual desempenho foi, de fato, mais satisfatório. A primeira pergunta, mais geral, questionava sobre qual era a ideia do texto. A segunda pedia que listassem tópicos abordados, e a terceira que fornecessem alguma informação adicional.
O que surpreendeu os pesquisadores é que as preferências e percepções dos estudantes foram inversas ao seus desempenhos. A maioria esmagadora preferia ler em formato digital e acredita ter maior aproveitamento nesse formato. Por outro lado, embora os resultados para a primeira pergunta, sobre a ideia geral do texto, tenham gerado resultados semelhantes para o papel e a tela, os detalhes da leitura foram mais extraídos no tradicional texto impresso. Além disso, os pesquisadores constataram que a leitura digital costuma ser bem mais rápida — sinal de que velocidade não é sinônimo de qualidade.
Nada de 8 ou 80
Se você estava prestes a militar apenas por textos impressos e abolir o tablet da sua vida escolar vá com calma! Os pesquisadores de Maryland fizeram importantes adendos sobre a importância de equilíbrio entre os dois formatos. O segredo para isso está nos detalhes revelados pela pesquisa. Como foi dito, os estudantes tendem a ler o texto bem mais rapidamente quando ele está em uma tela, e é essa rolagem rápida que pode fazer com que eles percam detalhes.
Prova disso é que um pequeno grupo de estudantes que apresentou resultados semelhantes para a leitura nos dois formatos fazia justamente uma leitura digital mais lenta, tentando absorver os detalhes do texto em vez de rolar a barra freneticamente. Sendo assim, uma sugestão é que os alunos sejam educados pelos professores a ler mais lentamente.
Por outro lado, também é importante lembrar que a leitura “dinâmica” não é de todo ruim. Ela pode, ao contrário, ser muito útil quando o leitor busca informações específicas em um texto ou pretende consumir notícias diárias em jornais digitais, que geralmente são escritas em uma linguagem mais simples do que textos acadêmicos.
Ou seja, há razões boas o suficiente para defender os dois formatos!
Por Taís Ilhéu