Neurocientista explica os tipos de memória e como usá-los a seu favor
A memória é uma ferramenta a que recorremos constantemente para diversas situações do cotidiano. Entretanto, você já precisou se lembrar de algo que sabia e simplesmente não conseguiu? O famoso “branco” é muito comum e está ligado aos seus hábitos.
Em uma entrevista ao Jornal da USP, Lézio Bueno Júnior, biólogo, doutor em Neurociências e atualmente pesquisador associado da Faculdade de Medicina da Ribeirão Preto (FMRP) da USP, explicou os tipos de memória e o quanto sair da rotina e ter bons hábitos pode contribuir para a melhora na capacidade de memorização.
Ele afirmou que a memória é multifacetada e pode ser abordada em um contexto tecnológico (ram e flash), sociológico (coletiva e cultural) e biológico (imunológica). Nas neurociências, quatro definições muito estudadas são as memórias explícitas (lembrar um determinado evento) e implícitas (aprendizagem motora) e as de curto e longo prazo – que, apesar do nome, não estão relacionadas apenas à duração.
“Geralmente, o curto prazo está na escala temporal de segundos até alguns minutos. Longo prazo, por sua vez, está na escala de horas, dias, semanas. Mas a verdade é que o limite da memória de curto prazo e longo prazo não é bem definido. Ele varia dependendo do conteúdo que está sendo aprendido e também do estado emocional, da qualidade do sono etc. O importante aqui não é necessariamente pensar em termos de limite temporal, mas no contexto que cerca aquela memória”, completa o neurocientista.
E ele diz algo importante para quem precisa memorizar muito conteúdo: “Se o contexto for desinteressante ou banal, e especialmente se for relacionada a algo que vimos só uma vez, existem boas chances de aquela memória de curto prazo se perder. Se o contexto for emocionalmente carregado, aquela memória de curto prazo pode se transformar em uma memória de longo prazo.”
Como exercitar a memória
Para quem tem interesse na própria capacidade cognitiva, o especialista recomenda uma reflexão sobre a vida e os hábitos.
“Você tem passado muito tempo na frente da TV? Como anda sua vida social? Se você mantém o mesmo círculo social há anos, está, pelo menos, explorando assuntos novos? Tem interagido com pessoas desconhecidas, fazendo contatos e novas amizades? Tem se sentido desafiado no trabalho? Como anda sua alimentação e a qualidade do seu sono?”, questiona.
Se você está honestamente satisfeito com a maioria desses aspectos, não se preocupe. Agora, se acha que está em dívida nessas questões, considere mudanças. O biólogo faz uma analogia com a musculação para entender essa dinâmica. Se você repete inúmeras vezes o mesmo treino, irá parar de sentir dor e, se persistir, não estará ganhando massa, mas só mantendo o que já conquistou. Com a capacidade cognitiva é a mesma coisa. Se estiver com a sensação de mesmice ou inércia, é importante repensar os seus hábitos e mudar sua rotina.